O ESPECTRO POLÍTICO BRASILEIRO, ONDE VOCÊ SE SITUA?
A Revolução Francesa (1789) foi um evento importante na história da humanidade e foi resultado da crise política, econômica e social que a França enfrentou no final do século XVIII, sob o governo de Luiz XVI. Dividida em três classes sociais, o Clero, a Nobreza e o Povo, a monarquia entrou em declínio em três anos e o Rei foi obrigado a instalar a Assembleia Nacional Constituinte em 9 de julho de 1789. Esse processo levou à universalização dos direitos sociais e das liberdades individuais a partir da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.
Nos exaltados debates políticos, as classes mais abastadas (clero e a nobreza), que defendiam o conservadorismo e a elite francesa, não gostaram da participação das massas, preferindo sentar separadas. Os girondinos, que representavam a burguesia, ocupavam o lado direito da Assembleia Nacional Constituinte e os jacobinos, liderados por Robespierre, que eram favoráveis ao movimento revolucionário, a favor dos direitos básicos dos trabalhadores e às populações excluídas da sociedade, ocupavam o lado esquerdo. Desta forma, ser esquerda presume-se lutar pelos direitos coletivos e ser direita representa o conservadorismo, mantendo o poder da elite e do bem estar individual.
Os estudos das agremiações partidárias, que têm origem na Europa Ocidental, datam do século XVIII. Com a expansão do sufrágio universal durante o século XIX, tem surgimento os partidos políticos modernos, com organizações permanentes. Assim, o espectro político se situa num continuum que vai da extrema direita à extrema esquerda e são classificados pela diferenciação dos grupos sociais, por razões ideológicas, religiosas, culturais, econômicas ou étnicas (clivagem social).
O Partido Democrata Alemão foi fundado em 1875, o Conservador Inglês em 1834, o Trabalhista Inglês em 1900, o Democrata e o Republicano nos EUA em 1828 e 1854, respectivamente. No Brasil em 1989, Fernando Collor de Mello foi eleito num partido fundado em fevereiro daquele ano e, em 2018, o atual presidente, num partido fundado em 1998 e que nunca teve mais que um deputado federal até 2014. Enquanto a Europa nos dá mostras de democracia e civilidade, com seus partidos centenários, no Brasil destaca-se o personalismo eleitoral, quando o individualismo do líder partidário predomina em detrimento da coletividade, além de termos o sistema eleitoral mais fragmentado do mundo, com 35 partidos políticos.
Nas redes sociais o que observamos além das inverdades em algumas publicações, são comentários pejorativos de um lado a lado. Ora, não devemos marginalizar ou criar um sentimento de ineficácia do sistema político. A política está no nosso dia a dia e está presente em todas as questões que dizem a respeito à convivência entre o homem e as relações de poder, mas não há perfeição no complexo Político Eleitoral (sistemas eleitorais, partidos, eleições). O que pode ser adotado com sucesso num determinado país, mas pode ser um fracasso em outro.
Dentro das Teorias do Comportamento Eleitoral, existe a Escolha Racional, que ocorre quando o voto é definido em função de um cálculo de custo-benefício, prevalecendo o partido e suas ideologias, ficando os valores do candidato em segundo plano na ação eleitoral e a Teoria Psicossocial, que traça uma relação entre a posição social do eleitor e seu comportamento político, tornando-se relevante, nesse caso, a figura do candidato. Aqui cabe uma inquirição: se o espectro político vai de um extremo ao outro, ou seja, uma defluência da extrema direita à extrema esquerda, porque a visão estreita daquele que, necessariamente não sendo esquerda, deverá ser direita? Se há uma escala entre um ponto e outro, porque somente trafegar entre os dois limites? Bem, isso acontece pelo personalismo do nosso sistema político, que tem grande influência na volatilidade eleitoral, já que, com a alta fragmentação partidária, a migração do voto é um fenômeno natural no Brasil. Enquanto nos países citados acima, a instituição partidária está no topo do processo, entre nós prevalece a figura política do líder, portanto, se você não é fulano, é beltrano.
Tudo isso está dentro do contexto de estudo da Ciência Política e para corroborar com o parágrafo anterior, cabe duas colocações: a desejada candidatura chamada de terceira via, será tão somente, um nome de centro e, nesse caso, os votos a serem obtidos por esse postulante, será uma migração dos eleitores da direita e da esquerda, portanto, num primeiro momento ocorrerá o movimento entre os dois extremos, surgindo o meio termo/centro e, posteriormente entra em ação a volatilidade eleitoral, redirecionando os votos anteriormente dos dois candidatos. Portanto, a diferença está nos verbos ser ou estar.
A título de observação, o espectro político trafega entre a extrema direita, a direita, a centro direita, o centro, a centro esquerda, a esquerda e a extrema esquerda.
Texto publicado originalmente no Facebook do autor, em 18 de setembro de 2021.