A GUERRA NÃO É COM A UCRÂNIA
A Guerra Fria foi um embate político-ideológico, travado entre os Estados Unidos da América (EUA) e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), que teve início em 1947 e durou até 1991, com o fim da URSS. O ponto chave da contenda foi o violento discurso que Harry Truman, então presidente americano, fez no Congresso em março de 1947, quando ele prometeu defender o mundo dos soviéticos e da “ameaça comunista”.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, os EUA lançaram o Plano Marshall ou Plano de Recuperação Europeia, garantindo apoio econômico para a reconstrução dos países da Europa Ocidental, aumentando, assim, a influência americana no Velho Mundo. Os soviéticos perceberam o objetivo do plano e proibiram o bloco de países do leste europeu, a chamada Cortina de Ferro, de aderir ao Plano Marshall. Nesse período, aumentou exponencialmente o discurso anticomunista nos países capitalistas – Europa Ocidental – e anticapitalista nos países socialistas – Europa Oriental.
O bloco era composto pela URSS (Rússia, Armênia, Azerbaijão, Bielorrússia, Estônia, Geórgia, Cazaquistão, Lituânia, Letônia, Moldávia, Quirguistão, Tadjiquistão, Turcomenistão, Uzbequistão e Ucrânia) e pelos estados-satélites da Alemanha Oriental, Polônia, Tchecoslováquia, Hungria, Bulgária, Romênia, Finlândia e Albânia. A URSS mantinha o controle econômico e político sobre eles.
Ainda no contexto da Guerra Fria, em 1949 foi criada a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), uma aliança militar supranacional, organizada pelos países da Europa Ocidental, mais os Estados Unidos e o Canadá, com o objetivo de garantir a segurança dos países membros. Com a entrada da Alemanha Ocidental na OTAN, em 1955, o bloco socialista criou sua aliança militar por meio do Pacto de Varsóvia, com atribuições semelhantes às da OTAN.
É importante fazer uma observação que nos remete aos dias atuais. A Revolução Cubana foi uma ação paramilitar, liderada por Fidel Castro, em 1959, que depôs o ditador Fulgêncio Batista, eliminando a forte influência americana em Cuba. Em 1961, ocorreu La Batalla de Girón, popularmente conhecida como a Invasão da Baía dos Porcos, empreendida por 1.297 paramilitares anticastristas, residentes da Flórida/EUA, treinados pela CIA, com apoio das Forças Armadas dos EUA, com o intuito de assassinar Fidel Castro. Após o insucesso da ação, Cuba se aproximou mais da URSS, permitindo que os soviéticos instalassem mísseis na ilha, a menos de 100 km dos EUA, fato que entrou para a história como Crise dos Mísseis. Em outubro de 1960, Nikita Khrushchov, Primeiro-Ministro da URSS se comprometeu a retirar os mísseis em Cuba, se os americanos retirassem os mísseis na Turquia. O Pacto foi selado e os mísseis retirados. Atualmente, a Ucrânia pleiteia entrar para a OTAN, criando oportunidades para que os EUA instalem bases a 300 km da Rússia. Aos americanos, tudo é permitido.
Com a queda do Muro de Berlim, em 1988, o Pacto de Varsóvia foi extinto e o acordo entre as potências seria de diminuir gradativamente a atuação da OTAN. Mesmo com o fim da URSS, em 1991, a OTAN continuou sua atuação, passando a ser também uma Agência de Segurança Regional, operando militarmente fora dos territórios dos seus membros, em missões que não dizem respeito à segurança coletiva. Em 1997, eram 17 membros (ver figura 1) e hoje são 30 membros, 40 mil soldados e constante crescimento, sempre para o leste europeu. A dissolução da URSS permitiu a criação de 14 países. Nesse contexto, a Rússia perde 5 milhões de km2 e 150 milhões de habitantes, se enfraquecendo significativamente no cenário geopolítico mundial. Nos últimos anos, os americanos dobraram a aposta e a OTAN já está na porta dos fundos da Rússia. (figura 2 – a OTAN ocupa o espaço azul, a Rússia o espaço laranja e a Ucrânia o espaço amarelo).
Figura 1 Figura 2
Atualmente, os EUA mantém 742 bases militares em 80 países espalhados pelo mundo. Na Alemanha, são 118 bases e a de Ramstein, nas proximidades de Kaiserslautern, com tamanho igual ao município de São Caetano do Sul, em SP, abriga 54 mil militares americanos e 5.400 funcionários e serve como sede da Força Aérea dos EUA na Europa, sendo compartilhada com a OTAN.
Nesse contexto, desde o fim da URSS, em 1991, os EUA já fizeram 48 intervenções militares, contando também com apoio da OTAN, que, de forma direta ou indireta, impõe sua supremacia pelo mundo, jamais sendo julgados por qualquer Corte Internacional. Daí surge o termo imperialismo, que é usado para designar o arsenal belicista dos EUA ao redor do mundo. A invasão do Iraque, em 2003, teve como motivação a destruição de supostas armas de destruição em massa, do regime de Saddam Hussein. Não as encontraram. Em julho de 2016, o primeiro-ministro da Inglaterra, Tony Blair, pediu desculpas à nação pelo erro de compartilhar a invasão do Iraque em 2003. Os americanos, nada.
O imbróglio na Ucrânia começou há oito anos, com o golpe de estado que derrubou o presidente Viktor Yanukovych e instalou um regime de direita, com forte presença neonazista e apoio do ocidente. Também em 2014, foi assinado o Protocolo de Minsk, capital da Bielorrússia, pelos representantes da Ucrânia, Rússia, República Popular de Donetsk e República Popular de Lugansk, com aval da ONU, para por fim à guerra no leste da Ucrânia. No texto, constava no artigo 1º: assegurar o cessar-fogo imediato por ambos os lados em conflito; e no 10º: Retirar os grupos armados ilegais, equipamento militar, assim como dos combatentes e dos mercenários pró-governamentais. A Ucrânia não cumpriu.
Por trás dessa disputa entre a Rússia e a Ucrânia, há a principal questão que coloca os EUA nessa disputa. A Rússia é a principal fornecedora de gás natural para a Europa Ocidental e em 2010 inaugurou a primeira parte do gasoduto Russo-Alemão, North Stream 1 e 2, através do Mar Báltico. A Alemanha tomou a iniciativa de adotar o gás natural como fonte geradora de energia limpa, ação que gerou a insatisfação dos EUA, o qual utilizou a União Europeia para comunicar à Alemanha que o gasoduto não contribuía com os objetivos relacionados à energia do bloco.
Nos primeiros dias pós a invasão do território de Donbass, saíram derrotados a OTAN e o presidente dos EUA, Joe Biden. A OTAN, porque não vai invadir a Rússia e Joe Biden, porque não teve a hombridade de Franklin Delano Roosevelt e Winston Churchill, que, em 28 de novembro de 1943, no Irã, sentaram com Josef Stalin, primeiro-ministro da URSS e apertaram as mãos, para derrotar o nazismo e Adolf Hitler. Aliás, Biden ameaçou por sete vezes invadir a Rússia, caso a situação não resolvesse. Não o fez e não o fará.
Ontem, data da ação militar russa, o senador americano Bernie Sanders, a ex-Secretária de Estado do EUA, Madeleine Albright, e o também ex-Secretário de Estado, Henry Kissinger, afirmaram em notas, a falta de habilidade de Biden em lidar com a situação.
Por fim, uma crítica aos principais meios de comunicação do país, que deveriam informar a população de maneira isenta. São corporativistas e utilizam como parâmetro as agências de notícias pró EUA, somente com uma versão dos fatos. Na guerra, a primeira vítima é sempre a verdade. A verdadeira guerra é entre os EUA e a Rússia e, agora, a China.